A semana vai sendo pontuada por demasiados casos para que não faça um breve comentário sobre todos eles:
1. O caso "face oculta" começa a revelar que o juridiquês, esse dialecto precioso do reino, deve ser elevado a património imaterial da humanidade. É no meio da teia legislativa, nascida da Assembleia Partidocrata Portuguesa, que somos constantemente confrontados com informação, contra-informação e desinformação sobre as escutas e a sua validade. A lei é una mas não deixa de poder ser interpretada de forma subjectiva, o que leva a que alguns doutos senhores afirmem que as escutas que envolvem o PM são inválidas ab initium e outros tantos digam exactamente o seu contrário. Por mim, o problema está no facto da espuma do tempo apenas levar a que a descrença, a desconfiança e a impunidade grassem vertiginosamente por Portugal - a mediatização da justiça, sector que parece precisar mais do soundbyte do que do recato e da calma, condiciona não só todos os agentes judiciais que se tenham de pronunciar como leva a que, qualquer que seja a pessoa, PM, Isaltino Morais, Fátima Felgueiras ou o Eusébio, possam ser condenados/absolvidos a priori. Creio que, no meio disto tudo, está criado o caldo de cultura para que qualquer deriva securitária e justicialista atinja as mais altas esferas do poder... Preocupante...
2. No meio da turbulência do caso supracitado, quase que foi negligenciado o chumbo, pelo Tribunal de Contas, do visto aos contratos de empreitada das Auto estradas prevista para Trás-os-Montes. Nesse caso, em que o Tribunal de Contas mostrou muitas reservas quanto à legalidade dos contratos, o que me preocupou foi a pronta resposta, tipicamente demagógica, de que o atraso nas obras leva a que muitos postos de trabalho estejam em risco. é triste constatar que a corrupção não é um caso político-jurídico, mas um caso de ética, moral e bons costumes que, desgraçadamente, começam a ser um recurso escasso em Portugal.
3. Os 20 anos da queda do muro de Berlim foram efusivamente festejados. Foi um momento marcante, não só para os que o viveram mas também para todos Nós que vivemos num mundo onde os perigos e a conflitualidade, mesmo que tão ou mais latentes que durante a Guerra Fria, não pairam no ar com tanta intensidade, com tanto terror. Mas acima de tudo, este aniversário serve para nos lembrarmos que há muros, visíveis e invisiveís, que o Ser Humano, na sua dimensão sócio-cultural e sócio-política ainda deve combater. O racismo, a xenofobia, o desrespeito pela diferença de género, opção sexual, religiosa ou política são ainda mais profundos do que os muros de Chipre, Cisjordânia, Estados Unidos, Coreias - estes são feitos de pedras, que os bons sentimentos e as boas vontades podem destruir, os primeiros são visceralmente humanos e não podem ser derrubados senão pela educação e informação.
4. Isto relembra-me Locke e a "sua carta sobre a tolerância" - a tolerância é um dom das minorias, que rapidamente se esquecem dela quando se tornam maioritárias. Lapidar o comentário de Vital Moreira no Público de dia 10 de Setembro em que são apresentados os dois pesos e duas medidas da Igreja Católica na matéria relativa à liberdade apresentação de simbologia religiosa e à imparcialidade do Estado face aos credos religiosos. Desta forma, lembro que as declarações proferidas no âmbito da Conferência Episcopal enfermam de um erro crasso - o casamento entre homossexuais é, antes mais, matéria terrena, profana, que não se compadece com o sagrado - é portanto, assunto de Estado. Ou seja, a tomada de posição dos mais altos representantes da Igreja Católica Portuguesa só poderia ter lógica se admitisse, como pressuposto, que o contrato que se pretende alargar aos homossexuais é um contrato civil e não um contrato perante qualquer credo. Depois de separar a matéria de Estado, poder-se-ia dizer se se acha correcto ou não e difundir a posição universal (católica) sobre a questão. A situação ainda foi pior quando se comparou a mesma a um ataque ideológico e se levou a comparação da mesma com a miséria, a fome e o desemprego que a crise económico-financeira agudizou. Primeiro, se a questão não é prioritária, porque não deixá-la ser tratada enquanto matéria meramente legislativa e pedir um referendo, que leve a atenção dos portugueses a dispersar-se para tão insignificante questão? Segundo, é imoral comparar um contrato de vontades a situações de necessidade, que são incomparáveis, quer pela urgência, quer pela natureza?
5. De realçar a vitória de Obama no primeiro round da reforma do sistema de saúde. Falta o mais difícil, mas é encorajador que a Câmara baixa (House of Representatives) tenha passado a contada saúde para o Senado caucionar.
6. Por fim, a crise do Sporting. As coisas no Campo Grande vão de mal a pior. A mim, que sou benfiquista, dá-me vontade de rir. Primeiro, porque um clube de elite descobriu que tem terrorismo - deve ser do caviar ou do champagne. Segundo, porque o Presidente dos verde-e-brancos pediu cagança aos jogadores e elogia Pedro Barbosa nos seguintes termos "Ca'ganda sportiguista que tu foste", elevando o nível do discurso. Terceiro, porque escolhem para Director-Desportivo um ex-jogador que é mais conhecido pelos seus dotes de boxeur do que pelo seu jeito para jogar à bola, o que anuncia um tempo de paz no futebol do SCP - não me parece que qualquer adepto, etarra ou não, tenha vontade de dizer a Sá Pinto qualquer impropério, nem que seja pelo simples facto de poder experimentar o famoso gancho de esquerda do ex-futebolista, formado nas escolas do... FCP. Por último, parece que vão contratar um treinador. Se eu fosse do Sporting, pediria, antes de mais, que se contratassem adeptos - é que daqui a pouco, o Sporting é um clube à Belenenses - simpático, inofensivo e cada vez mais pequeno...
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
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